Vamos parar de abrir a Arca do Tesouro

Luciana Savaget

O escritor e padre francês Michel Quoist tinha razão quando escreveu: "todo adulto deveria se lembrar que um dia já foi criança". Mas na verdade poucos são os adultos que se lembram e deixam para traz a bela aventura da infância.

Ser criança é muito difícil, ainda mais hoje e no Brasil. É uma pena que a mais gostosa fase da vida, seja vista só no diminutivo: bonitinha, letrinha, livrinho, histórinha e por aí a fora. Quando não é no diminutivo, o sinônimo de criança é consumo. Comprar..

O grande problema dos dias de hoje, foi esquecido nas páginas dos jornais, nas telas das tvs: o saber. Não me refiro ao saber que vem dos bancos das escolas, refiro-me as lições que vêm de dentro de casa, através da tv, do jornal ou mesmo da internet.o que é bom se omite. Não se divulga quase nada que se refere culturalmente a criança.

Recentemente a literatura infantil brasileira foi homenageada na Europa. Há exatamente trinta e três anos a literatura "dos livrinhos de criança", mundial é discutida na feira internacional de literatura infanto - juvenil que acontece todos os anos em Bolonha, na Itália. Essa feira de prestígio internacional, escolheu o Brasil para homenagear. Nada se divulgou a respeito. Por que será? Porque criança só é vista no diminutivo.

Cresce visivelmente o mercado editorial de livros infanto - juvenis. Estamos exportando para quase toda a américa latina e alguns países europeus. Podemos dizer com certeza, contradizendo "técnicos" de que se está lendo muito mais do que se imagina e que os novos lançamentos cumprem um rigor de qualidade indiscutível, isso deveria ser divulgado.

Vamos parar de respingar sangue nos castelos das fadas encantadas, de abrir a arca do tesouro, de cortar a trança da Rapunzel, esquecer de só falar em bala perdida, e violência. Vamos falar nos exemplos, nos sonhos esquecidos e que roubamos, por inveja, das nossas crianças. Vamos ajudar- las a resgatar o sonho através de livros de histórias mágicas. Por que a única coisa que fica, marcado no nosso coração, é o que guardamos com a ajuda da fantasia.

Um viva a nossa literatura infantil que, sem batuque, samba ou qualquer outro elemento do folclore de venda brasileira, conquistou um espaço merecido no velho continente e está sendo valorizada aos altos brados no reduto da cultura.



as ilustrações desta página foram retiradas do livro "Traça-letra e Traça-tudo" de Luciana Savaget, e são de autoria de Victor Tavares.

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