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A MAÇÃ INTERATIVA
E O FIM DO MUNDO por Luiza Rangel Estava eu passando perto da televisão quando ouvi Gilberto Gil dizer que a Internet está abrindo um novo espaço afetivo entre as pessoas.Que história é essa ? pensei eu. Todos sabemos muito bem a verdade e a verdade é que Internet isola as pessoas.Afinal, onde foram parar os nossos amigos, aqueles que viraram “internautas“ ? Antes, eles eram companhias agradáveis, que nas horas vagas saiam conosco e sabiam falar sobre qualquer assunto. Hoje são pessoas que preferem nos receber em casa, para mostrar a Internet, e que a maior parte do tempo só sabem nos falar sobre as novidades do tal mundo interativo. Com boa vontade ouvimos tudo, fazemos cara de interessados, mas entender mesmo que é bom, só eles entendem, os “iniciados”. Eram amigos com os quais costumávamos trocar confidências e que agora não falam mais a nossa língua. Mudaram-se para o distante planeta regido por bytes e provedores de acesso, distanciaram-se do universo familiar e de todos os não-possuidores de Internet da face da Terra. Têm telefones que só dão ocupado, não conseguimos mais nos comunicar com eles.Nisso, aparece Gilberto Gil na televisão, contando sobre as mensagens carinhosas que vem recebendo de gente que nunca teve coragem de lhe escrever ou falar pessoalmente.Se pelo menos essas mensagens estivessem sendo enviadas pelo correio ! Por que tinham que vir justamente através dessa máquina, símbolo da vida calculista, do individualismo e da incomunicabilidade ?Ela, a terrível máquina, deve estar querendo agora nos desmentir, é isso. Fazer-nos passar por reacionários e desatualizados. Mandou nossas amizades para o espaço - cibernético - e agora quer mostrar que não foi bem isso o que aconteceu. Como se estivéssemos exagerando. Quer, então, que deixemos de lado velhos preconceitos e nos obrigar a admitir que ela evoluiu, sem que percebêssemos.Sorrateira, saiu do escritório - que era o seu lugar - e invadiu os lares. Não satisfeita, tornou-se aparelho eletrônico doméstico dos mais requisitados. Conquistou as crianças, os adolescentes e os marmanjões da casa. Desdobrou-se em brinquedo interativo, enciclopédia, livraria, shopping, galeria de arte, jornal e até revistinha de sacanagem; permitiu que pessoas do mundo inteiro trocassem notícias e opiniões diariamente, e, pronto, conseguiu o status de veículo afetivo!Como a maçã no paraíso, a máquina é incansável na arte de seduzir. O inferno nos espera agora. Mais cedo ou mais tarde, estaremos todos “iniciados” e nos encontraremos lá com os amigos perdidos, com o Edu da novela das oito... Mudou a novela, foi ? Tá certo, é verdade. Pois deixo aqui registrado que para mim isso tudo é mesmo o fim do mundo !P.S.: Gostaria que os leitores desse artigo me escrevessem falando de suas experiências afetivas através da Internet. Sei que serão provavelmente pouquíssimos, mas poderão prestar ajuda muitíssimo valiosa ao transcurso desse meu processo pessoal de resignação em favor da máquina. É sério, escrevam. |
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dckos@unisys.com.br |
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